domingo, 31 de maio de 2009

Vale a pena ler:

A pipoca
Rubem Alves


A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.As comidas, para mim, são entidades oníricas.Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro."Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira..."Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".
O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O CORTIÇO II - 2ºE.M.

SEGUE A ADAPTAÇÃO REALIZADA PELOS ALUNOS DO 2º E.M.

O CORTIÇO.....

CONTO - 9º ANO- TAINÁ

SEGUE A VERSÃO ORIGINAL: ( SEM CORREÇÕES)


Cada um pagará pelo que fez


Editora PANDOCA



Capítulo I

Gilda é uma mulher dedicada à seu marido Félix, e à seus filhos Gabriel de 12 anos e Maíra de 18 anos. Gilda é trabalhadora e tem um pequeno comércio na cidade, Félix atualmente está desempregado. O casamento dos dois está em crise, ainda mais com o desemprego de Félix as coisas só pioravam. Gilda já estava cheia das contas, de sustentar a casa, e até mesmo cheia de seu marido.
Um dia, com a ajuda de sua amiga, Gilda conheceu um homem chamado Ronaldo. Ele era bonito, interessante e rico. Ela se encantou por ele.





























Capítulo II

Ronaldo, que era um agente secreto, se aproximou dela, os dois conversaram, e se apaixonaram à primeira vista.
Depois de várias semanas, Gilda e Ronaldo começaram a ter um caso, e se encontrar com freqüência, ela tinha um interesse financeiro e amoroso em Ronaldo. Félix era um pouco agressivo, e Gilda sabia do risco que estava correndo.
Mesmo assim, Gilda não desistia de Ronaldo. Félix começava a desconfiar de sua esposa, mas preferiu ficar em silêncio e juntar provas primeiro, para quem sabe depois tomar alguma decisão.
Gilda e Ronaldo já suspeitavam que Félix estava desconfiando do caso dos dois, então, tinham um plano em mente.



























Capítulo III

Quando Félix descobriu realmente que estava sendo traído por sua mulher, ele ficou furioso. Ele juntou algumas provas, estranhava que sua mulher saia de casa e não dava explicações concretas de onde ia, entre outras coisas.
Gilda e Ronaldo planejavam matar Félix assim que ele descobrisse, para possivelmente evitar que acontecesse algo com Gilda. Então, como planejado e aproveitando que Gabriel e Maíra não estavam em casa, realizaram o plano na casa de Gilda, quando Félix estava distraído. A dupla enterrou o corpo no quintal e eliminou qualquer tipo de provas existentes do crime, para não acontecer algo com eles.
Para os filhos de Gilda, falaram que Félix foi embora e não deu motivos de onde foi. Os meninos estranharam muito o sumiço do pai, mas não entraram em detalhes, pois afinal, Félix não era um bom pai e um bom marido.
Passando-se algumas semanas, a polícia que procurava um criminoso escondido na região, investigou a antiga casa da família, assim como todas outras, mas que não habitava mais ninguém, pois a Gilda, o Gabriel e a Maíra se mudaram para a casa de Ronaldo, e acabou descobrindo que havia um corpo enterrado no quintal, então resolveu investigar.
Investigando, a polícia descobriu que o corpo enterrado era de Félix, e estranhando que fazia um mês que ele tinha sumido sem dar satisfações, e que Gilda e Ronaldo começaram a ter um caso e se mudaram com os filhos Maíra e Gabriel.
Então, a polícia prendeu Gilda e Ronaldo, pois concluíram que eles foram os criminosos. Como Maíra já era maior de idade, e já podia tomar conta de seu irmão que já tinha 12 anos também, eles começaram a morar sozinhos e receber uma ajuda da família, apesar de já serem ricos. Maíra e Gabriel viveram bem, enquanto foi feita a justiça para Gilda e Ronaldo, que pagaram por seu crime.







Dedicatória

Dedico este livro ao meu querido professor de português Ricardo Henrique Clemente, porque se não fosse ele eu não teria escrito esse livro, e também aos meus queridos leitores.
E com o livro, eu quis mostrar que o melhor caminho não é a violência, e sim a paz. Porque fazendo a coisa certa ou errada, nós pagaremos pelo que fizemos algum dia.

CLUBES - 8ºANO....

COMO SABEMOS O TEXTO ESCRITO É MUITO IMPORTANTE NA LÍNGUA PORTUGUESA. BASEANDO-SE NESTA TEORIA... OS ALUNOS DO 8º ANO DESENVOLVERAM ALGUNS CLUBES E SUAS REGRAS.

SEGUE ABAIXO A APRESENTAÇÃO DESSES CLUBES SUPRACITADOS....

CONTO- RAFA- 9º ANO

SEGUE MAIS UM CONTO ( VERSÃO ORIGINAL- SEM CORREÇÕES)





Dedicatória

Este livro é dedicado aos alunos interessados e ao professor Ricardo Clemente



Agradecimento

Agradeço ao meu professor Ricardo que me deu essa oportunidade de estar fazendo um pequeno livro de um conto policial.
















Num certo dia estava John na portaria de um prédio, pois ele era um porteiro responsável e muito rígido com tudo que fazia. Tinha o controle das pessoas que entravam e saiam daquele prédio. Quando aconteceu um grave acidente em um dos apartamentos. John como não deixava nada passar, foi ver o que tina acontecido. E era o apartamento que tinha o número que era o mesmo em que John fazia aniversário. De repente o pobre do porteiro tinha descoberto que tinha caído em uma armadilha. Nunca mais ouviram falar do John, o porteiro. Como na sociedade conheciam John, se espantaram por não terem mais visto ele. Então decidiram contratar um grande mestre da área de peritação. Um perito que ajuda-se a descobrir a verdadeira morte de John. Toda noite os vizinhos ouviram um barulho vindo do quarto onde John estava morto. decidiram então chamar o perito Sr. Wally . Sr. Wally decidiu então passar uma noite no quarto onde esta um radio e o corpo.
Passou a noite, chegou o dia, o Sr. Wally não tinha ouvido nada... então decidiu entrevistar todos os amigos que John tinha mais afinidade. Entrevistou até mesmo o garotinho que John dava comida todos os dias.
Um certo dia o perito , decidiu fazer uma pequena investigação no quarto, para ver se o assassino tinha deixado alguma pista mais concreta. Olhou nos armários, olhou até mesmo na geladeira. Até que conseguiu achar a misteriosa pista, que poderia incriminar qualquer um. A faca que matou John. A arma usada no crime estava dentro do bolso direito da calça de John. O Sr.Wally pegou as digitais marcadas na faca e levou direto no laboratório especializado nessa are. Só que o Sr. Wally tinha esquecido de um certo detalhe, as filmagens de segurança do prédio, que mostra dês da hora em que o porteiro saiu até a hora em que ouvi o barulho de sua morte.
O Sr. Wally viu na fita que não havia ninguém entrando ou saindo. Chegou o dia de desvendar o mistério, chegou o dia de saber de quem eram as digitais na faca, a arma usada no assassinado de John Perera Filho. As digitais da faca, o rádio tocando toda noite...
O Sr. Wally descobriu que as digitais da faca eram do próprio John. Mais então, depois que a noticia foi anunciada, eis uma que não quer calar...”Quem ligava o rádio e por que John se matou?”

terça-feira, 12 de maio de 2009

CONTO POLICIAL - CAROLINA ARRUDA

SEGUE OUTRO TEXTO COM A SUA FORMATAÇÃO ORIGINAL ( SEM CORREÇÕES):

“Dedico este livro a todos os leitores”,
para eles também dedico um pedido
de desculpas, por possível indignação
ao final da leitura”.

Parte I
Já não conseguia se livrar desse velho vício, era o único da família que sustentava a mania. O hábito já era maior que ele, e muito rotineiro, passava despercebido dentro de seu dia-a-dia.
Apagava o cigarro, e o que restava ele deixava, como de costume, em cima de um pires ou dentro de uma xícara, que tinha servido para sustentar outra força de seu hábito, o café.Isso toda a família herdava...
Era nisso que pensava quando saiu do apartamento, pegou o elevador para levar Dunk ao veterinário.O cachorro conseguira prender a orelha na porta e deixar boa parte lá.Dunk colaborou imensamente para que a roupa do dono se tingisse de vermelho.
Saía da portaria, era feriado de Tiradentes, o prédio realmente se encontrava abandonado de moradores e zelador.Neste momento se deparou com a cena: Corpos boiavam na piscina.Naquele momento podia escutar o tilintar das pulseiras de Cassie, sua prima além de ser sua grande paixão.Tudo indicava
que tinha sido esganada.Aquela cena era realmente necessária?
Seu cachorro, Dunk, se aproximou para “farejar a cena”.Os longos cabelos de Cassie caíam como um tapete na piscina, e seu pescoço delicado tinha marcas feitas por mãos insensíveis e brutas.Ao seu lado boiava outro corpo, com pele coberta de sangue e sem mãos.
Corina, meia-irmã de Cassie, era, verdadeiramente, muito bonita, era o tipo de beleza que deslumbrava. Porém não naquele estado.Já não era possível ver os chamativos olhos verdes, a pele bronzeada e...Doces mãos.
Realmente, aquilo fazia uma confusão mental, junto com a piscina que se tingia de vermelho vivo.
Os olhos de seu pai, que acabara de chegar, revelavam temor.O velho Ícaro, investigador policial, sentia muita dor, e se via deslocado, pois sabia que seria o responsável pela investigação do crime.
A solução era desvendar.








Parte II
As ambulâncias, com o insuportável barulho das sirenes, levavam os corpos. O resultado sairia amanhã.Qual das duas teria matado a outra? Como teria sido o crime? As perguntas latejavam na cabeça de Ícaro, que até agora estava evitando a investigação no quarto onde havia a janela que os corpos foram atirados.

Parte III
-Pai?Já saiu o resultado da autópsia?
-Sim, filho, esse crime me parece impossível.Tem certeza Giulliano que enquanto pegava Dunk não viu nada? Porque tem um terceiro envolvido, o coração das duas parou no mesmo momento, há mais ou menos 30 horas atrás, com a diferença entre um e dois segundos, nem o pescoço esganado ou a hemorragia das mãos foram as causas, a perícia não identificou qual foi o motivo real das mortes.Mas já foi tirado um peso da consciência não houve nenhum crime entre irmãs, suas primas no caso, que era o imaginado pelas rivalidades entre as duas.Serão necessárias provas no local do crime.

Parte IV
Fosse o que fosse, Ícaro sabia que o assassino não poderia mudar nada no quarto, ele tinha a chave e havia trancado.
Já estava mais do que na hora de enfrentar a aflição de ir ao local do assassinato das sobrinhas.Era impossível esconder o temor que aquilo lhe causava.
Passou por todos os cômodos do apartamento, sala, cozinha, banheiro...Todos em extrema ordem, como se estivesse à venda e fosse de uma família feliz.Sem vestígios da noite que não precisava ter acontecido, e logicamente sem crimes, exceto o quarto que tanto evitara.
O susto foi grande, o quarto estava limpo, o equipamento não encontrava nem impressões digitais nem marcas de sangue, porém um detalhe quase lhe passa despercebido.
Um vício se torna parte de você, ou até você mesmo.


-

CONTO POLICIAL - NICOLLE

SEGUE UM CONTO EM SUA DIAGRAMAÇÃO ORIGINAL ( SEM CORREÇÕES) :

O Grande

Golpe







Autora: Nicolle Amorim da Silva

Editora: Rosa Nery

Sumário









Apresentação..........................................................01

As estratégias.........................................................02

A prática................................................................04

A descoberta............................................................07

O grande final..........................................................09





O Grande Golpe
Nicolle Amorim da Silva



A autora Nicolle começou a escrever alguns textos a partir de seus 11 anos de idade, fazendo algumas narrativas, contos pequenos. Depois com 13 anos começou a fazer dissertações e publicá-las no seu portifólio para todos poderem ver. A partir daí seu grande professor de Português, Ricardo Clemente, a fez um grande desafio: escrever um Conto Policial, “O Grande Golpe”.



Conta à história de uma empresa grande, que alguns de seus funcionários tenta dar um golpe grandioso que iria falir a grande Amorin’s.

A partir daí, leia o Conto.





Agora eh o conto.




Apresentação








Todos estavam trabalhando na empresa Amorin’s, como sempre. Isabella secretária da Melissa, Pedro gerente de marketing, Camila da lanchonete, Mariana presidente, Paulo da recepção, Mônica à faxineira entre outros funcionários.

-Isabella, quero aquele relatório do Doutor Carlos aqui na minha mesa em dez minutos!

-Já estou a caminho! _diz em voz baixa: sua vaca!
Mariana sempre conduziu sua empresa da melhor forma, sempre pensou antes de dar qualquer passo. Pedro muito ambicioso sempre querendo mais e mais. Camila a sempre divertida da turma, burra burra. Paulo sempre com ar sério de desconfiado. Mônica nunca foi de muitas palavras, só o necessário.

























As estratégias







Uma noite Melissa e Mariana saíram para jantar, como eram muito amigas:

-Aquela Isabella! Vou te contar, nunca uma menina tão sonsa quanto ela! Como enrola pra fazer as coisas!

-Você tem que dar um jeito nela, para ela nunca mais esquecer seus deveres.

-É, eu já pensei nessa possibilidade. Vou ver.

No dia seguinte as coisas na empresa estavam meio tensas, todos estavam meio apreensivos e bem pensativos.

Mais à noite se reúne Pedro Isabella e Camila:

-Hoje a empresa estava estranha, fiquei preocupado. _diz Pedro.

-É? Eu nem percebi, lá na lanchonete todos estavam com fome como sempre.

-Ah Camila como você é burra! Estamos falando da parte administrativa. _ diz Isabella. Acredito que Melissa e Mariana estão tramando algo.

-Será? O que elas pretenderiam? _ diz Pedro.

-Não sei... Roubar a empresa talvez. _diz Isabella.

-Nossa! Como elas conseguiriam tirar e empresa daqui? É tão pesada!

-Ah Camila! Cala a boca!
-Mas como será que elas conseguiriam essa proeza? Sem ninguém perceber a trama?

-Como elas têm cargos altos na empresa, pode ter acesso à conta empresarial. Assim transferindo o dinheiro para sua própria conta, falindo a grande Amorin’s!

-Ah! Entendi! Mas sem querer ser incomodo, como você sabe desse plano?

-Eu apenas sei.







































A prática







-Mas você sentiu falta de algo importante?! Um outro dia Pedro chega à empresa mais cedo que o normal, vai à sala da Mariana, procurar uns documentos muito importantes . Depois de um certo tempo chega Mariana à sua sala e o encontra e pergunta:

-O que é que você está fazendo na minha sala mexendo nas minhas coisas?

-É que... Estava procurando uns documentos para poder enviar à empresa que vai fazer a festa de inauguração do novo produto.

-Ah ta! Mas da próxima vez peça a mim.. _ diz Mariana preocupada.

Pedro sai da sala e diz em voz baixa:

-Uffa! Ainda bem que peguei a tempo!

Depois na hora do almoço se reúne Melissa e Mariana:

-Hoje de manhã encontrei o Pedro mexendo nas minhas coisas.

-E o que ele queria?

-Disse que estava atrás de uns documentos.



-Sim. Do número da conta da Suíça.

-Mas você acha que foi ele?

-Não sei. Ainda estou meio desconfiada.

Ao mesmo tempo almoça Pero e Isabella juntos.

-Conseguiu?

-Consegui. Mas foi por pouco! Quase que ela me vê pegando. Sorte que ela me viu só mexendo em outros documentos.

-Tá! Então me dá logo, que eu vou ao banco ver uns dados ainda hoje.

-Ok!

Depois do término de expediente Mariana pergunta a Pedro:

-Conseguiu o que queria com os documentos?!

-Sim!

-Tá...

Logo depois Pedro vai falar com Isabella:

-Você vai ao banco agora?

-Vou, e não me espera no restaurante, depois que eu for ao banco vou direto para casa.

-Ok.

No dia seguinte, todos estão trabalhando normal, menos Paulo aparentava estar com muito medo, como se estivesse escondendo algo.

-Paulo? Você está bem?!

-Tô sim!

-Tá._diz Pedro –se dirige a Isabella.

-Ontem deu tudo certo ao banco?

-Sim.

-Então depois me passa o número da conta.

-Pra quê?!

-Ora, pra eu também poder a movimentar, ou você acha que fez tudo sozinha?!

-Tá! Depois eu te dou, agora vai trabalhar. Ah! Só uma coisa: você acha que a Camila merece algo?

-Não. É melhor que assim sobra mais dinheiro.

Na mesma hora estava conversando Melissa e Mariana em outra sala:

-Já achou o número da conta?

-Não, ainda não. Estou com um mau pressentimento.

-Acho que deveria falar com o Pedro. Só você e ele... Vai lá sabe se ele abre a boca...

-É, vou fazer isso mesmo, e agora!

-Ok! Já estou saindo.

-E aproveita e peça à secretária que mande o chamar.

Entra Pedro na sala.

-Pedro, lembra ontem quando você entrou em minha sala para pegar alguns documentos?!

-Sim. Perfeitamente

-Então sumiu o número de uma conta daqui da empresa. Você sabe de algo?

-Não sei não.

Mariana começa a desabotoar a blusa, soltando seu cabelo, fazendo provocações a Pedro

-Tem certeza?

-Cl... Claro que tenho! _ olhando sem parar para os seios de Mariana.

Mariana só de sutiã diz:

-Vai abre o jogo pra mim! Eu sei que você quer dar um golpe aqui na empresa! E eu quero participar...Quero sair daqui rica! Como você..

-Com.. Como você descobriu?

-Eu não sou idiota! Agora vem aqui!

Os dois se agarram loucamente.

-Oh! Vê se não se esquece de mim hein! Se não... –mostra um gravador a ele- Eu acabo com você.

Pedro espantado:

-Tá bom! Mas por favor, não conte a ninguém! Sai da sala.

Na hora do almoço Mariana conversa com Melissa:

--Eu descobri tudo! Foi ele que roubou, e está tudo gravado.

Mas como você consegui isso?!

-Isso eu já não posso contar. Mas ele não perde por esperar....























A descoberta





No mesmo local Pedro e Isabella:
-Está tudo programado. Hoje nós nos encontramos no aeroporto logo depois do expediente, compramos as passagens para as Ilhas Malvinas, transferindo todo o dinheiro para um cofre lá mesmo, e ninguém fica sabendo de nada. _diz Isabella.

-Ok! Mas quero o número da conta.

-Pra quê? Está tudo sob controle!

-Eu não confio em ninguém!

-Tá o número é...

-Pode aposta que você vai se surpreender _ diz Mariana para Melissa.

Depois uma hora que o escritório estava vazio,Pedro foi à sala de Mariana:

-Presta atenção! Vai ser hoje depois do expediente, me encontra no aeroporto de Guarulhos, eu te dou metade do dinheiro, e nós fingimos que nunca nos vimos!

-Tá, mais vê se não faz nada errado, se não..

-É eu já sei!

Enquanto Isabella escuta tudo por trás da porta e diz em voz baixa:

-Então os dois estão tramando... eles que não sabem o que tem por vir.

No final do expediente todos vão embora normalmente, menos Isabella, Pedro e Camila pois vão para o aeroporto.







O grande final







Encontram-se primeiro Isabella, Pedro e Camila.

-Tudo pronto, mas antes ao banheiro feminino para dividir o dinheiro. _diz Isabella

Mas você disse.. _diz Camila.

-Mas nada! Mudei de idéia. Agora vamos

-Podem ir indo, vou fazer uns negócios e já vou.

Assim que elas saíram Pedro liga para Mariana dizendo para eles se encontrarem dentro de 40 minutos.

-A primeira parte é da Camila. E aqui a sua parte Pedro. Agora sai daqui Camila, preciso falar com o ele a sós Ah! E a partir de agora eu nunca te vi ma minha vida!

-Tá bom! Adeus a todos!

-Você deu dinheiro a ela?!

-Falso. Agora é entre você e eu. Tem algo que você está me escondendo?!

-Não porque?

-Porque você é umas das pessoas que não sabe mentir, e acha que vai passara perna, numa pessoa como eu.

Isabella pega a arma que estava na cintura de Pedro e o mata, com um só tiro.

-E pessoas como você que querem tudo acabam tendo nada.

No mesmo instante entra Mariana no banheiro e leva um tiro que também a mata.

-Ah! E você também que se acha esperta e que quer tudo, acaba não tendo nada. Aliás vocês se merecem.

Isabella sai do banheiro e vai comprar sua passagem:

-Por favor pode me dizer quando sai o vôo para as Ilhas Malvinas?

-Às 21:45 senhora.

-Você pode me dar 2 passagens por favor? Quer dizer 1 só.

sábado, 9 de maio de 2009

CONTO POLICIAL - CAROL BONAFÉ

SEGUE A VERSÃO ORIGINAL ( SEM EDIÇÃO) :

CAPÍTULO I
Conseqüência de um sonho?
Meu sonho era ter uma menina, sofri 3 anos tentando, fiz tratamento. Usei todo meu dinheiro para realizar este sonho. Meu médico disse que seria difícil ter uma filha, mas eu consegui. Meirelly, uma menina sorridente, meiga, alegre, como a maioria das crianças, só que mais especial. Linda minha menina. Aos três anos de vida de Meirelly separei-me de meu marido, por me agredir, tínhamos dias em que ele quebrava pratos sobre mim, horrível, um monstro. Descobri que a policia sempre esteve á sua procura. Diz ele que tinham dias que comprava kilos de drogas, e sempre guardava em casa. Certo dia chegou á jogar uma garrafa sob minha cabeça, consegui desviar. Um pequeno pedaço da garrafa voou em direção de nossa filha, fazendo um corte em sua cabeça.
Talvez por tudo o que fez de errado, Jorge amava a minha menina, isso era o que dizia. 24 de setembro completaram-se 13 anos de casamento, e também o 8° aniversário da minha filha. Sentia-se tão feliz minha menina, crescendo, fazendo amigos na escola, amadurecendo, Pois no começo foi difícil, ia chorando quase todos os dias para a escola. Até que me sentei com ela, e falei que

tudo ia passar, era tudo uma questão de tempo, precisávamos ter forças, apenas um pouco de paciência. Já ela, me abraçou com lágrimas nos olhos. Olhava-me como se quisesse dizer que me entendia, mas o que uma pequena criança iria certamente me entender, entendo-lhe, fazia de tudo para me fazer feliz, agradar-me.

CAPÍTULO II
O que será?
Meirelly sempre dizia que se sentia mal, com dores na cabeça. Levei-a ao posto de saúde, no qual era o mais próximo. Aproveitei e comentei dos roxos em meu corpo, perguntei o que seria melhor para passar, e não sentira tanta dor sobre os roxos. Dr.Oscar comentou de Meirelly primeiro:
- Bom Srta. Melo, sua filha esta com apenas uma leve enxaqueca. – Comentou o Doutor
Certamente fiquei mais tranqüila, simplesmente um remédio as dores de cabeça acabariam.
Passaram-se uma semana, e a situação iria complicando, convulsão atrás de convulsão. Meu marido me prendia dentro de casa, sem deixar eu leva - lá para o médico, pois pensava que iria fazer coisas erradas.

Em uma manhã de domingo, outra convulsão, mas não era uma qualquer, e sim a pior de todas. Babava e jorrava sangue. Gritei desesperadamente:
-JORGE! JORGE! SOCORRO! VENHA ME AJUDAR!
Jorge nem ligava para o que eu dizia, muito menos para o que eu fazia, estava deitado no sofá, bêbado. Fugi ás pressas para o posto de saúde. Lá está o mesmo médico, Dr. Oscar. Tive que me retirar da sala do Doutor, pois disse para aguardar na sala de espera. Fizeram em Meirelly uma série de exames, exames cardiológicos, cerebrais e dentre outros.

CAPÍTULO III
Erro, o grande erro
Esperava Meirelly se recuperar, o médico não me dava notícias, não me informava de nada. Finalmente tinha chego os resultados dos exames. Ai sim poderia ver minha menina. Mas estava tudo muito estranho, ela não estava em seu devido lugar. Deveria estar em outra sala. Perguntei-lhe desesperadamente sobre os exames:


-Doutor, os resultados estão tudo em ordem?! Está tudo bem?
Respondeu:
-Sinto-lhe informá-la, mas... Mas Meirelly teve um derrame cerebral.
-NÃO! NÃOOOO! NÃO É POSSÍVEL UMA COISA DESSAS! – chorava intensamente, aos berros.
Passavam-se os dias e nada da situação melhorar. As seqüelas do derrame são grandes. Decidir reagir. Não agüentava mais aquele bêbado, que só me espancava, me criticava, que me tratava como escrava.
Por ser traficante de drogas, andava sempre preparado para reagir, tínhamos arma em casa, por isso eu não podia recorrer á policia, aos maus tratos. Usei aquela arma, na qual o próprio Jorge usava para fazer ameaças, e matei-o.
Enterrei seu corpo em meu próprio quintal. Vizinhos ouviram os tiros.

CAPÍTULO IV
E agora?!O que fazer?
Ouviram os tiros, ouvia-se o barulho de policia se aproximando. O que fazer com minha filha, o que fazer?! Em meu desespero,

decidi rapidamente fugir, e que Deus ilumine o caminho de minha filha, comecei a ser perseguida, todos realmente não imaginavam o que eu tinha feito. Enfim, foi
isso o que aconteceu juiz. Matei meu marido e hoje completam cinco dias que a minha filha está na UTI, sobrevivendo por aparelhos. Eu suplico, não me deixem longe de Meirelly. Por favor, tudo, menos a distância de minha filha.

CONTOS 9º ANO

VALE A PENA LER E VALORIZAR A PRODUÇÃO TEXTUAL DESSES PEQUENOS ESCRITORES....

quinta-feira, 30 de abril de 2009

TEXTO ORIGINAL: AUTO DA BARCA DO INFERNO

Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente
Texto proveniente de:
A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro
A Escola do Futuro da Universidade de São Paulo
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AUTO DA BARCA DO INFERNO
Gil Vicente
Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.
Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um de dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.
DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.
À barca, à barca, hu-u!
Asinha, que se quer ir!
Oh, que tempo de partir,
louvores a Berzebu!
- Ora, sus! que fazes tu?
Despeja todo esse leito!
COMPANHEIRO Em boa hora! Feito, feito!
DIABO Abaixa aramá esse cu!
Faze aquela poja lesta
e alija aquela driça.
COMPANHEIRO Oh-oh, caça! Oh-oh, iça, iça!
DIABO Oh, que caravela esta!
Põe bandeiras, que é festa.
Verga alta! Âncora a pique!
- Ó poderoso dom Anrique,
cá vindes vós?... Que cousa é esta?...
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO Esta barca onde vai ora,
que assi está apercebida?
DIABO Vai pera a ilha perdida,
e há-de partir logo ess'ora.
FIDALGO Pera lá vai a senhora?
DIABO Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO Parece-me isso cortiço...
DIABO Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO Porém, a que terra passais?
DIABO Pera o inferno, senhor.
FIDALGO Terra é bem sem-sabor.
DIABO Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO E passageiros achais
pera tal habitação?
DIABO Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais...
FIDALGO Parece-te a ti assi!...
DIABO Em que esperas ter guarida?
FIDALGO Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
DIABO Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que rezam lá por ti?!...
Embarca - ou embarcai...
que haveis de ir à derradeira!
Mandai meter a cadeira,
que assi passou vosso pai.
FIDALGO Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO Vai ou vem! Embarcai prestes!
Segundo lá escolhestes,
assi cá vos contentai.
Pois que já a morte passastes,
haveis de passar o rio.
FIDALGO Não há aqui outro navio?
DIABO Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que expirastes
me destes logo sinal.
FIDALGO Que sinal foi esse tal?
DIABO Do que vós vos contentastes.
FIDALGO A estoutra barca me vou.
Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!...
(Pardeus, aviado estou!
Cant'a isto é já pior...)
Oue jericocins, salvanor!
Cuidam cá que são eu grou?
ANJO Que quereis?
FIDALGO Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
é esta em que navegais.
ANJO Esta é; que demandais?
FIDALGO Que me leixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
é bem que me recolhais.
ANJO Não se embarca tirania
neste batel divinal.
FIDALGO Não sei porque haveis por mal
que entre a minha senhoria...
ANJO Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
FIDALGO Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?
Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!
ANJO Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
a cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.
Ireis lá mais espaçoso,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.
DIABO À barca, à barca, senhores!
Oh! que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
a la mano me veniredes.
FIDALGO Ao Inferno, todavia!
Inferno há i pera mi?
Oh triste! Enquanto vivi
não cuidei que o i havia:
Tive que era fantesia!
Folgava ser adorado,
confiei em meu estado
e não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
esta barca de tristura.
DIABO Embarque vossa doçura,
que cá nos entenderemos...
Tomarês um par de remos,
veremos como remais,
e, chegando ao nosso cais,
todos bem vos serviremos.
FIDALGO Esperar-me-ês vós aqui,
tornarei à outra vida
ver minha dama querida
que se quer matar por mi.
Dia, Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO Isto bem certo o sei eu.
DIABO Ó namorado sandeu,
o maior que nunca vi!...
FIDALGO Como pod'rá isso ser,
que m'escrevia mil dias?
DIABO Quantas mentiras que lias,
e tu... morto de prazer!...
FIDALGO Pera que é escarnecer,
quem nom havia mais no bem?
DIABO Assi vivas tu, amém,
como te tinha querer!
FIDALGO Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO Pois estando tu expirando,
se estava ela requebrando
com outro de menos preço.
FIDALGO Dá-me licença, te peço,
que vá ver minha mulher.
DIABO E ela, por não te ver,
despenhar-se-á dum cabeço!
Quanto ela hoje rezou,
antre seus gritos e gritas,
foi dar graças infinitas
a quem a desassombrou.
FIDALGO Cant'a ela, bem chorou!
DIABO Nom há i choro de alegria?..
FIDALGO E as lástimas que dezia?
DIABO Sua mãe lhas ensinou...
Entrai, meu senhor, entrai:
Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO Entremos, pois que assi é.
DIABO Ora, senhor, descansai,
passeai e suspirai.
Em tanto virá mais gente.
FIDALGO Ó barca, como és ardente!
Maldito quem em ti vai!
Diz o Diabo ao Moço da cadeira:
DIABO Nom entras cá! Vai-te d'i!
A cadeira é cá sobeja;
cousa que esteve na igreja
nom se há-de embarcar aqui.
Cá lha darão de marfi,
marchetada de dolores,
com tais modos de lavores,
que estará fora de si...
À barca, à barca, boa gente,
que queremos dar à vela!
Chegar ela! Chegar ela!
Muitos e de boamente!
Oh! que barca tão valente!
Vem um Onzeneiro, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:
ONZENEIRO Pera onde caminhais?
DIABO Oh! que má-hora venhais,
onzeneiro, meu parente!
Como tardastes vós tanto?
ONZENEIRO Mais quisera eu lá tardar...
Na safra do apanhar
me deu Saturno quebranto.
DIABO Ora mui muito m'espanto
nom vos livrar o dinheiro!...
ONZENEIRO Solamente para o barqueiro
nom me leixaram nem tanto...
DIABO Ora entrai, entrai aqui!
ONZENEIRO Não hei eu i d'embarcar!
DIABO Oh! que gentil recear,
e que cousas pera mi!...
ONZENEIRO Ainda agora faleci,
leixa-me buscar batel!
DIABO Pesar de Jam Pimentel!
Porque não irás aqui?...
ONZENEIRO E pera onde é a viagem?
DIABO Pera onde tu hás-de ir.
ONZENEIRO Havemos logo de partir?
DIABO Não cures de mais linguagem.
ONZENEIRO Mas pera onde é a passagem?
DIABO Pera a infernal comarca.
ONZENEIRO Dix! Nom vou eu tal barca.
Estoutra tem avantagem.
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da barca! Houlá! Hou!
Haveis logo de partir?
ANJO E onde queres tu ir?
ONZENEIRO Eu pera o Paraíso vou.
ANJO Pois cant'eu mui fora estou
de te levar para lá.
Essoutra te levará;
vai pera quem te enganou!
ONZENEIRO Porquê?
ANJO Porque esse bolsão
tomará todo o navio.
ONZENEIRO Juro a Deus que vai vazio!
ANJO Não já no teu coração.
ONZENEIRO Lá me fica, de rondão,
minha fazenda e alhea.
ANJO Ó onzena, como és fea
e filha de maldição!
Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:
ONZENEIRO Houlá! Hou! Demo barqueiro!
Sabês vós no que me fundo?
Quero lá tornar ao mundo
e trazer o meu dinheiro.
que aqueloutro marinheiro,
porque me vê vir sem nada,
dá-me tanta borregada
como arrais lá do Barreiro.
DIABO Entra, entra, e remarás!
Nom percamos mais maré!
ONZENEIRO Todavia...
DIABO Per força é!
Que te pês, cá entrarás!
Irás servir Satanás,
pois que sempre te ajudou.
ONZENEIRO Oh! Triste, quem me cegou?
DIABO Cal'te, que cá chorarás.
Entrando o Onzeneiro no batel, onde achou o Fidalgo embarcado, diz tirando o barrete:
ONZENEIRO Santa Joana de Valdês!
Cá é vossa senhoria?
FIDALGO Dá ò demo a cortesia!
DIABO Ouvis? Falai vós cortês!
Vós, fidalgo, cuidareis
que estais na vossa pousada?
Dar-vos-ei tanta pancada
com um remo que renegueis!
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:
PARVO Hou daquesta!
DIABO Quem é?
PARVO Eu soo.
É esta a naviarra nossa?
DIABO De quem?
PARVO Dos tolos.
DIABO Vossa.
Entra!
PARVO De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô!
Soma, vim adoecer
e fui má-hora morrer,
e nela, pera mi só.
DIABO De que morreste?
PARVO De quê?
Samicas de caganeira.
DIABO De quê?
PARVO De caga merdeira!
Má rabugem que te dê!
DIABO Entra! Põe aqui o pé!
PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco!
DIABO Entra, tolaço eunuco,
que se nos vai a maré!
PARVO Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d'ir ter?
DIABO Ao porto de Lucifer.
PARVO Ha-á-a...
DIABO Ó Inferno! Entra cá!
PARVO Ò Inferno?... Eramá...
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pêro Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Antrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há-de parir um sapo
chantado no guardanapo!
Neto de cagarrinhosa!
Furta cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas erguejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
per'a Ilha da Madeira!
Cornudo atá mangueira,
toma o pão que te caiu!
Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha!
Dê-dê! Pica nàquela!
Hump! Hump! Caga na vela!
Hio, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho da Pampulha!
Mija n'agulha, mija n'agulha!
Chega o Parvo ao batel do Anjo e dlz:
PARVO Hou da barca!
ANJO Que me queres?
PARVO Queres-me passar além?
ANJO Quem és tu?
PARVO Samica alguém.
ANJO Tu passarás, se quiseres;
porque em todos teus fazeres
per malícia nom erraste.
Tua simpreza t'abaste
pera gozar dos prazeres.
Espera entanto per i:
veremos se vem alguém,
merecedor de tal bem,
que deva de entrar aqui.
Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de formas, e chega ao batel infernal, e diz:
SAPATEIRO Hou da barca!
DIABO Quem vem i?
Santo sapateiro honrado,
como vens tão carregado?...
SAPATEIRO Mandaram-me vir assi...
E pera onde é a viagem?
DIABO Pera o lago dos danados.
SAPATEIRO Os que morrem confessados
onde têm sua passagem?
DIABO Nom cures de mais linguagem!
Esta é a tua barca, esta!
SAPATEIRO Renegaria eu da festa
e da puta da barcagem!
Como poderá isso ser,
confessado e comungado?!...
DIABO Tu morreste excomungado:
Nom o quiseste dizer.
Esperavas de viver,
calaste dous mil enganos...
Tu roubaste bem trint'anos
o povo com teu mester.
Embarca, eramá pera ti,
que há já muito que t'espero!
SAPATEIRO Pois digo-te que nom quero!
DIABO Que te pês, hás-de ir, si, si!
SAPATEIRO Quantas missas eu ouvi,
nom me hão elas de prestar?
DIABO Ouvir missa, então roubar,
é caminho per'aqui.
SAPATEIRO E as ofertas que darão?
E as horas dos finados?
DIABO E os dinheiros mal levados,
que foi da satisfação?
SAPATEIRO Ah! Nom praza ò cordovão,
nem à puta da badana,
se é esta boa traquitana
em que se vê Jan Antão!
Ora juro a Deus que é graça!
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da santa caravela,
poderês levar-me nela?
ANJO A cárrega t'embaraça.
SAPATEIRO Nom há mercê que me Deus faça?
Isto uxiquer irá.
ANJO Essa barca que lá está
Leva quem rouba de praça.
Oh! almas embaraçadas!
SAPATEIRO Ora eu me maravilho
haverdes por grão peguilho
quatro forminhas cagadas
que podem bem ir i chantadas
num cantinho desse leito!
ANJO Se tu viveras dereito,
Elas foram cá escusadas.
SAPATEIRO Assi que determinais
que vá cozer ò Inferno?
ANJO Escrito estás no caderno
das ementas infernais.
Torna-se à barca dos danados, e diz:
SAPATEIRO Hou barqueiros! Que aguardais?
Vamos, venha a prancha logo
e levai-me àquele fogo!
Não nos detenhamos mais!
Vem um Frade com üa Moça pela mão, e um broquel e üa espada na outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:
FRADE Tai-rai-rai-ra-rã; ta-ri-ri-rã;
ta-rai-rai-rai-rã; tai-ri-ri-rã:
tã-tã; ta-ri-rim-rim-rã. Huhá!
DIABO Que é isso, padre?! Que vai lá?
FRADE Deo gratias! Som cortesão.
DIABO Sabês também o tordião?
FRADE Porque não? Como ora sei!
DIABO Pois entrai! Eu tangerei
e faremos um serão.
Essa dama é ela vossa?
FRADE Por minha la tenho eu,
e sempre a tive de meu,
DIABO Fezestes bem, que é fermosa!
E não vos punham lá grosa
no vosso convento santo?
FRADE E eles fazem outro tanto!
DIABO Que cousa tão preciosa...
Entrai, padre reverendo!
FRADE Para onde levais gente?
DIABO Pera aquele fogo ardente
que nom temestes vivendo.
FRADE Juro a Deus que nom t'entendo!
E este hábito no me val?
DIABO Gentil padre mundanal,
a Berzebu vos encomendo!
FRADE Corpo de Deus consagrado!
Pela fé de Jesu Cristo,
que eu nom posso entender isto!
Eu hei-de ser condenado?!...
Um padre tão namorado
e tanto dado à virtude?
Assi Deus me dê saúde,
que eu estou maravilhado!
DIABO Não curês de mais detença.
Embarcai e partiremos:
tomareis um par de ramos.
FRADE Nom ficou isso n'avença.
DIABO Pois dada está já a sentença!
FRADE Pardeus! Essa seria ela!
Não vai em tal caravela
minha senhora Florença.
Como? Por ser namorado
e folgar com üa mulher
se há um frade de perder,
com tanto salmo rezado?!...
DIABO Ora estás bem aviado!
FRADE Mais estás bem corregido!
DIABO Dovoto padre marido,
haveis de ser cá pingado...
Descobriu o Frade a cabeça, tirando o capelo; e apareceu o casco, e diz o Frade:
FRADE Mantenha Deus esta c'oroa!
DIABO ó padre Frei Capacete!
Cuidei que tínheis barrete...
FRADE Sabê que fui da pessoa!
Esta espada é roloa
e este broquel, rolão.
DIABO Dê Vossa Reverença lição
d'esgrima, que é cousa boa!
Começou o frade a dar lição d'esgrima com a espada e broquel, que eram d'esgrimir, e diz desta maneira:
FRADE Deo gratias! Demos caçada!
Pera sempre contra sus!
Um fendente! Ora sus!
Esta é a primeira levada.
Alto! Levantai a espada!
Talho largo, e um revés!
E logo colher os pés,
que todo o al no é nada!
Quando o recolher se tarda
o ferir nom é prudente.
Ora, sus! Mui largamente,
cortai na segunda guarda!
- Guarde-me Deus d'espingarda
mais de homem denodado.
Aqui estou tão bem guardado
como a palhá n'albarda.
Saio com meia espada...
Hou lá! Guardai as queixadas!
DIABO Oh que valentes levadas!
FRADE Ainda isto nom é nada...
Demos outra vez caçada!
Contra sus e um fendente,
e, cortando largamente,
eis aqui sexta feitada.
Daqui saio com üa guia
e um revés da primeira:
esta é a quinta verdadeira.
- Oh! quantos daqui feria!...
Padre que tal aprendia
no Inferno há-de haver pingos?!...
Ah! Nom praza a São Domingos
com tanta descortesia!
Tornou a tomar a Moça pela mão, dizendo:
FRADE Vamos à barca da Glória!
Começou o Frade a fazer o tordião e foram dançando até o batel do Anjo desta maneira:
FRADE Ta-ra-ra-rai-rã; ta-ri-ri-ri-rã;
rai-rai-rã; ta-ri-ri-rã; ta-ri-ri-rã.
Huhá!
Deo gratias! Há lugar cá
pera minha reverença?
E a senhora Florença
polo meu entrará lá!
PARVO Andar, muitieramá!
Furtaste esse trinchão, frade?
FRADE Senhora, dá-me à vontade
que este feito mal está.
Vamos onde havemos d'ir!
Não praza a Deus coa a ribeira!
Eu não vejo aqui maneira
senão, enfim, concrudir.
DIABO Haveis, padre, de viir.
FRADE Agasalhai-me lá Florença,
e compra-se esta sentença:
ordenemos de partir.
Tanto que o Frade foi embarcado, veio üa Alcoviteira, per nome Brízida Vaz, a qual chegando à barca infernal, diz desta maneira:
BRÍZIDA Hou lá da barca, hou lá!
DIABO Quem chama?
BRÍZIDA Brízida Vaz.
DIABO E aguarda-me, rapaz?
Como nom vem ela já?
COMPANHEIRO Diz que nom há-de vir cá
sem Joana de Valdês.
DIABO Entrai vós, e remarês.
BRÍZIDA Nom quero eu entrar lá.
DIABO Que sabroso arrecear!
BRÍZIDA No é essa barca que eu cato.
DIABO E trazês vós muito fato?
BRÍZIDA O que me convém levar.
Día. Que é o que havês d'embarcar?
BRÍZIDA Seiscentos virgos postiços
e três arcas de feitiços
que nom podem mais levar.
Três almários de mentir,
e cinco cofres de enlheos,
e alguns furtos alheos,
assi em jóias de vestir,
guarda-roupa d'encobrir,
enfim - casa movediça;
um estrado de cortiça
com dous coxins d'encobrir.
A mor cárrega que é:
essas moças que vendia.
Daquestra mercadoria
trago eu muita, à bofé!
DIABO Ora ponde aqui o pé...
BRÍZIDA Hui! E eu vou pera o Paraíso!
DIABO E quem te dixe a ti isso?
BRÍZIDA Lá hei-de ir desta maré.
Eu sô üa mártela tal!...
Açoutes tenho levados
e tormentos suportados
que ninguém me foi igual.
Se fosse ò fogo infernal,
lá iria todo o mundo!
A estoutra barca, cá fundo,
me vou, que é mais real.
Chegando à Barca da Glória diz ao Anjo:
Barqueiro mano, meus olhos,
prancha a Brísida Vaz.
ANJO: Eu não sei quem te cá traz...
BRÍZIDA Peço-vo-lo de giolhos!
Cuidais que trago piolhos,
anjo de Deos, minha rosa?
Eu sô aquela preciosa
que dava as moças a molhos,
a que criava as meninas
pera os cónegos da Sé...
Passai-me, por vossa fé,
meu amor, minhas boninas,
olho de perlinhas finas!
E eu som apostolada,
angelada e martelada,
e fiz cousas mui divinas.
Santa Úrsula nom converteu
tantas cachopas como eu:
todas salvas polo meu
que nenhüa se perdeu.
E prouve Àquele do Céu
que todas acharam dono.
Cuidais que dormia eu sono?
Nem ponto se me perdeu!
ANJO Ora vai lá embarcar,
não estês importunando.
BRÍZIDA Pois estou-vos eu contando
o porque me haveis de levar.
ANJO Não cures de importunar,
que não podes vir aqui.
BRÍZIDA E que má-hora eu servi,
pois não me há-de aproveitar!...
Torna-se Brízida Vaz à Barca do Inferno, dizendo:
BRÍZIDA Hou barqueiros da má-hora,
que é da prancha, que eis me vou?
E já há muito que aqui estou,
e pareço mal cá de fora.
DIABO Ora entrai, minha senhora,
e sereis bem recebida;
se vivestes santa vida,
vós o sentirês agora...
Tanto que Brízida Vaz se embarcou, veo um Judeu, com um bode às costas; e, chegando ao batel dos danados, diz:
JUDEU Que vai cá? Hou marinheiro!
DIABO Oh! que má-hora vieste!...
JUDEU Cuj'é esta barca que preste?
DIABO Esta barca é do barqueiro.
JUDEU. Passai-me por meu dinheiro.
DIABO E o bode há cá de vir?
JUDEU Pois também o bode há-de vir.
DIABO Que escusado passageiro!
JUDEU Sem bode, como irei lá?
DIABO Nem eu nom passo cabrões.
JUDEU Eis aqui quatro tostões
e mais se vos pagará.
Por vida do Semifará
que me passeis o cabrão!
Querês mais outro tostão?
DIABO Nem tu nom hás-de vir cá.
JUDEU Porque nom irá o judeu
onde vai Brísida Vaz?
Ao senhor meirinho apraz?
Senhor meirinho, irei eu?
DIABO E o fidalgo, quem lhe deu...
JUDEU O mando, dizês, do batel?
Corregedor, coronel,
castigai este sandeu!
Azará, pedra miúda,
lodo, chanto, fogo, lenha,
caganeira que te venha!
Má corrença que te acuda!
Par el Deu, que te sacuda
coa beca nos focinhos!
Fazes burla dos meirinhos?
Dize, filho da cornuda!
PARVO Furtaste a chiba cabrão?
Parecês-me vós a mim
gafanhoto d'Almeirim
chacinado em um seirão.
DIABO Judeu, lá te passarão,
porque vão mais despejados.
PARVO E ele mijou nos finados
n'ergueja de São Gião!
E comia a carne da panela
no dia de Nosso Senhor!
E aperta o salvador,
e mija na caravela!
DIABO Sus, sus! Demos à vela!
Vós, Judeu, irês à toa,
que sois mui ruim pessoa.
Levai o cabrão na trela!
Vem um Corregedor, carregado de feitos, e, chegando à barca do Inferno, com sua vara na mão, diz:
CORREGEDOR Hou da barca!
DIABO Que quereis?
CORREGEDOR Está aqui o senhor juiz?
DIABO Oh amador de perdiz.
gentil cárrega trazeis!
CORREGEDOR No meu ar conhecereis
que nom é ela do meu jeito.
DIABO Como vai lá o direito?
CORREGEDOR Nestes feitos o vereis.
DIABO Ora, pois, entrai. Veremos
que diz i nesse papel...
CORREGEDOR E onde vai o batel?
DIABO No Inferno vos poeremos.
CORREGEDOR Como? À terra dos demos
há-de ir um corregedor?
DIABO Santo descorregedor,
embarcai, e remaremos!
Ora, entrai, pois que viestes!
CORREGEDOR Non est de regulae juris, não!
DIABO Ita, Ita! Dai cá a mão!
Remaremos um remo destes.
Fazei conta que nacestes
pera nosso companheiro.
- Que fazes tu, barzoneiro?
Faze-lhe essa prancha prestes!
CORREGEDOR Oh! Renego da viagem
e de quem me há-de levar!
Há 'qui meirinho do mar?
DIABO Não há tal costumagem.
CORREGEDOR Nom entendo esta barcagem,
nem hoc nom potest esse.
DIABO Se ora vos parecesse
que nom sei mais que linguagem...
Entrai, entrai, corregedor!
CORREGEDOR Hou! Videtis qui petatis -
Super jure magestatis
tem vosso mando vigor?
DIABO Quando éreis ouvidor
nonne accepistis rapina?
Pois ireis pela bolina
onde nossa mercê for...
Oh! que isca esse papel
pera um fogo que eu sei!
CORREGEDOR Domine, memento mei!
DIABO Non es tempus, bacharel!
Imbarquemini in batel
quia Judicastis malitia.
CORREGEDOR Sempre ego justitia
fecit, e bem por nivel.
DIABO E as peitas dos judeus
que a vossa mulher levava?
CORREGEDOR Isso eu não o tomava
eram lá percalços seus.
Nom som pecatus meus,
peccavit uxore mea.
DIABO Et vobis quoque cum ea,
não temuistis Deus.
A largo modo adquiristis
sanguinis laboratorum
ignorantis peccatorum.
Ut quid eos non audistis?
CORREGEDOR Vós, arrais, nonne legistis
que o dar quebra os pinedos?
Os direitos estão quedos,
sed aliquid tradidistis...
DIABO Ora entrai, nos negros fados!
Ireis ao lago dos cães
e vereis os escrivães
como estão tão prosperados.
CORREGEDOR E na terra dos danados
estão os Evangelistas?
DIABO Os mestres das burlas vistas
lá estão bem fraguados.
Estando o Corregedor nesta prática com o Arrais infernal chegou um Procurador, carregado de livros, e diz o Corregedor ao Procurador:
CORREGEDOR Ó senhor Procurador!
PROCURADOR Bejo-vo-las mãos, Juiz!
Que diz esse arrais? Que diz?
DIABO Que serês bom remador.
Entrai, bacharel doutor,
e ireis dando na bomba.
PROCURADOR E este barqueiro zomba...
Jogatais de zombador?
Essa gente que aí está
pera onde a levais?
DIABO Pera as penas infernais.
PROCURADOR Dix! Nom vou eu pera lá!
Outro navio está cá,
muito milhor assombrado.
DIABO Ora estás bem aviado!
Entra, muitieramá!
CORREGEDOR Confessaste-vos, doutor?
PROCURADOR Bacharel som. Dou-me à Demo!
Não cuidei que era extremo,
nem de morte minha dor.
E vós, senhor Corregedor?
CORREGEDOR Eu mui bem me confessei,
mas tudo quanto roubei
encobri ao confessor...
Porque, se o nom tornais,
não vos querem absolver,
e é mui mau de volver
depois que o apanhais.
DIABO Pois porque nom embarcais?
PROCURADOR Quia speramus in Deo.
DIABO Imbarquemini in barco meo...
Pera que esperatis mais?
Vão-se ambos ao batel da Glória, e, chegando, diz o Corregedor ao Anjo:
CORREGEDOR Ó arrais dos gloriosos,
passai-nos neste batel!
ANJO Oh! pragas pera papel,
pera as almas odiosos!
Como vindes preciosos,
sendo filhos da ciência!
CORREGEDOR Oh! habeatis clemência
e passai-nos como vossos!
PARVO Hou, homens dos breviairos,
rapinastis coelhorum
et pernis perdigotorum
e mijais nos campanairos!
CORREGEDOR Oh! não nos sejais contrairos,
pois nom temos outra ponte!
PARVO Belequinis ubi sunt?
Ego latinus macairos.
ANJO A justiça divinal
vos manda vir carregados
porque vades embarcados
nesse batel infernal.
CORREGEDOR Oh! nom praza a São Marçal!
coa ribeira, nem co rio!
Cuidam lá que é desvario
haver cá tamanho mal!
PROCURADOR Que ribeira é esta tal!
PARVO Parecês-me vós a mi
como cagado nebri,
mandado no Sardoal.
Embarquetis in zambuquis!
CORREGEDOR Venha a negra prancha cá!
Vamos ver este segredo.
PROCURADOR Diz um texto do Degredo...
DIABO Entrai, que cá se dirá!
E Tanto que foram dentro no batel dos condenados, disse o Corregedor a Brízida Vaz, porque a conhecia:
CORREGEDOR Oh! esteis muitieramá,
senhora Brízida Vaz!
BRÍZIDA Já siquer estou em paz,
que não me leixáveis lá.
Cada hora sentenciada:
«Justiça que manda fazer....»
CORREGEDOR E vós... tornar a tecer
e urdir outra meada.
BRÍZIDA Dizede, juiz d'alçada:
vem lá Pêro de Lixboa?
Levá-lo-emos à toa
e irá nesta barcada.
Vem um homem que morreu Enforcado, e, chegando ao batel dos mal-aventurados, disse o Arrais, tanto que chegou:
DIABO Venhais embora, enforcado!
Que diz lá Garcia Moniz?
ENFORCADO Eu te direi que ele diz:
que fui bem-aventurado
em morrer dependurado
como o tordo na buiz,
e diz que os feitos que eu fiz
me fazem canonizado.
DIABO Entra cá, governarás
atá as portas do Inferno.
ENFORCADO Nom é essa a nau que eu governo.
DIABO Mando-te eu que aqui irás.
ENFORCADO Oh! nom praza a Barrabás!
Se Garcia Moniz diz
que os que morrem como eu fiz
são livres de Satanás...
E disse que a Deus prouvera
que fora ele o enforcado;
e que fosse Deus louvado
que em bo'hora eu cá nacera;
e que o Senhor m'escolhera;
e por bem vi beleguins.
E com isto mil latins,
mui lindos, feitos de cera.
E, no passo derradeiro,
me disse nos meus ouvidos
que o lugar dos escolhidos
era a forca e o Limoeiro;
nem guardião do moesteiro
nom tinha tão santa gente
como Afonso Valente
que é agora carcereiro.
DIABO Dava-te consolação
isso, ou algum esforço?
ENFORCADO Com o baraço no pescoço,
mui mal presta a pregação...
E ele leva a devação
que há-de tornar a jentar...
Mas quem há-de estar no ar
avorrece-lhe o sermão.
DIABO Entra, entra no batel,
que ao Inferno hás-de ir!
ENFORCADO O Moniz há-de mentir?
Disse-me que com São Miguel
jentaria pão e mel
tanto que fosse enforcado.
Ora, já passei meu fado,
e já feito é o burel.
Agora não sei que é isso:
não me falou em ribeira,
nem barqueiro, nem barqueira,
senão - logo ò Paraíso.
Isto muito em seu siso.
e era santo o meu baraço...
Eu não sei que aqui faço:
que é desta glória emproviso?
DIABO Falou-te no Purgatório?
ENFORCADO Disse que era o Limoeiro,
e ora por ele o salteiro
e o pregão vitatório;
e que era mui notório
que àqueles deciprinados
eram horas dos finados
e missas de São Gregório.
DIABO Quero-te desenganar:
se o que disse tomaras,
certo é que te salvaras.
Não o quiseste tomar...
- Alto! Todos a tirar,
que está em seco o batel!
- Saí vós, Frei Babriel!
Ajudai ali a botar!
Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pelo qual Senhor e acrecentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assi morrem têm dos mistérios da Paixão d'Aquele por Quem padecem, outorgados por todos os Presi- dentes Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja. E a cantiga que assi cantavam, quanto a palavra dela, é a seguinte:
CAVALEIROS À barca, à barca segura,
barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Senhores que trabalhais
pola vida transitória,
memória , por Deus, memória
deste temeroso cais!
À barca, à barca, mortais,
Barca bem guarnecida,
à barca, à barca da vida!
Vigiai-vos, pecadores,
que, depois da sepultura,
neste rio está a ventura
de prazeres ou dolores!
À barca, à barca, senhores,
barca mui nobrecida,
à barca, à barca da vida!
E passando per diante da proa do batel dos danados assi cantando, com suas espadas e escudos, disse o Arrais da perdição desta maneira:
DIABO Cavaleiros, vós passais
e nom perguntais onde is?
1º CAVALEIRO Vós, Satanás, presumis?
Atentai com quem falais!
2º CAVALEIRO Vós que nos demandais?
Siquer conhecê-nos bem:
morremos nas Partes d'Além,
e não queirais saber mais.
DIABO Entrai cá! Que cousa é essa?
Eu nom posso entender isto!
CAVALEIROS Quem morre por Jesu Cristo
não vai em tal barca como essa!
Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:
ANJO Ó cavaleiros de Deus,
a vós estou esperando,
que morrestes pelejando
por Cristo, Senhor dos Céus!
Sois livres de todo mal,
mártires da Santa Igreja,
que quem morre em tal peleja
merece paz eternal.
E assi embarcam

terça-feira, 28 de abril de 2009

AUTO DA BARCA - VICTOR 1º E.M.

SEGUE UMA ADAPTAÇÃO DO TEATRO VICENTINO REPRESENTADO PELOS ALUNOS DO COLÉGIO 8 DE MAIO...( 1ºE.M.)

AUTO DA BARCA DO INFERNO